São Paulo – Uma equipe da Mayo Clinic, um hospital-universidade sem fins lucrativos, acredita ter encontrado uma chave para tratar todos os tipos de câncer, reprogramando as células para fazê-las voltar ao normal. E já testaram, com sucesso, em células cancerosas in vitro.
Funciona assim: quando uma célula está em contato com outra, moléculas chamadas micro-RNAs (miRNAs) regulam a ação dos genes, dando a ordem que é hora da célula parar de se reproduzir. Esse contato, afinal, significa que o espaço já está ocupado.
Esses complexos de proteínas são chamados “microprocessadores” – elas, afinal, atuam como computadores, tomando decisões baseadas em diferentes informações. Esse “programa” dá tela azul em cânceres. Os genes não recebem a mensagem e as células se reproduzem descontroladamente.
Há alguns anos, pesquisas apontavam que problemas em duas dessas moléculas, a E-caderina e a p120 catenina, eram uma possível causa universal do câncer.
O problema com esses estudos, segundo os pesquisadores, é que essas proteínas ainda estão presentes em células cancerosas. Elas não poderiam ser a única causa.
A equipe focou sua atenção então em outro microprocessador, o PLEKHA7, que se associa aos outros dois. Em sua ausência, a E-caderina e p120 catenina se tornam incapazes de suprimir a reprodução das células – ao invés disso, elas aceleram a reprodução. Isto é, de mocinhas, tornam-se vilãs.
“Acreditamos que a perda do complexo de microprocessadores PLEKHA-7 é um evento primordial e algo universal no câncer”, afirma Panos Anastasiadis, investigador sênior da Mayo Clinic.
“Na vasta maioria dos exemplares de tumores que examinamos, essa estrutura está ausente, ainda que a E-caderina e a p120 estejam presentes. Isso produz o equivalente a um carro acelerado que tem um monte de combustível (a p120 ruim) e nenhum freio (o complexo de multiprocessadores PLEKHA7).”
Nos primeiros testes em laboratório, células que receberam de volta o PLEKHA7 voltaram ao normal. “Através da administração dos micro-RNAs afetados em células de câncer, para retorná-los aos seus níveis normais, devemos ser capazes de devolver os freios e restaurar a função celular normal”, afirma o pesquisador.
“Experimentos iniciais em alguns tipos de câncer agressivos foram, de fato, bastante promissores”.
A pesquisa pode ter um imenso impacto em breve. “O mais significativo de tudo é que nosso estudo descobriu uma nova estratégia para a terapia de câncer”, afirma o Anastasiadis.
A quimioterapia, o tratamento mais comum atualmente, é relativamente eficiente, mas bastante custosa aos pacientes. O novo método pode não apenas se mostrar mais eficaz, como trazer um imenso alívio aos doentes.
Fonte: Exame
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