Você já passou por momentos críticos similares ao que vivemos hoje. Pare e pense. Como foi a sensação mediante a confirmação do diagnóstico de câncer? Como foi assimilar que possui uma doença crônica, portanto incurável e parceira de toda vida? Como é administrar a imunidade baixa diante de tratamentos potentes para continuidade da vida?
Nas suas devidas proporções, restrições, medidas de cuidado no contato com grandes grupos, gestão das atividades e do tempo por limitações da própria doença são parte constituinte na vida de muitos pacientes. É evidente que administrar uma doença e sentir-se ameaçado por outra aciona nossos mecanismos de defesa. Mas façamos um exercício: será que o medo é de todo tão ruim assim?
Sentir medo é ruim quando este sentimento aparece de modo desadaptativo, em situações que não corremos riscos. Ou ainda pode ser ruim se não aparece quando seria adaptativo, em situação de risco. Talvez perigoso fosse ainda, se aparecesse com uma intensidade tal que nos bloqueasse, inativando nossa capacidade de defesa. Nesse contexto, independente do sentimento de ameaça que nos circunda, se faz de imensa importância colocarmos o medo no contexto que estamos enfrentando no momento.
Vivemos um alarme sanitário e, com isso, estamos sendo convocados a controlar nossa ansiedade e, como nos aponta Yolanda Ayneto, escutar a mensagem que nosso medo nos passa: seria este medo o de “se infectar e morrer, de se infectar e matar, de nossos entes queridos serem infectados, de perdas financeiras, de isolamento, de estar desabastecido, de rejeição, de não poder assumir responsabilidades de cuidados…?
Seria importante conhecer esse medo: se é um medo antigo; se é novo ou se você aprendeu com alguém”. Será que você já não tem recursos para lidar com, ao menos, parte das situações enumeradas?
Lembre-se que a diferença entre saber superar os problemas e adversidades na vida e não conseguir essa superação está na nossa habilidade de decidir. Podemos nos sentir impotentes para mudar uma situação, mas é sempre possível escolher a nossa atitude em relação a esta situação. Ou seja, sempre há algo dentro de nós que podemos mudar: como nos sentimos.
Exercite o “antifrágil” que há em você. Sinta-se preparado para enfrentar os próprios medos e fazer escolhas racionais sem perder-se em ilusões e tentativas de previsão sobre o futuro. Quantas vezes nos pegamos pensando em como não adiantaria fazer movimentos sozinho porque não se conseguiria mudar o mundo…. mas, tantas vezes quisemos mudar o mundo sem nem tentar primeiro dentro de casa, na relação de pares, entre a própria família, no nosso próprio comportamento e autocuidado.
Não seria este momento presente, uma rica oportunidade?
Natalia Schopf Frizzo
Psicóloga – CRP 07/21597
Mestra em Psicologia e Saúde – UFCSPA
Residência em Gestão e Atenção Hospitalar – Área de concentração: Oncologia-Hematologia – UFSM/HUSM
Especialista em Cuidados Paliativos – Hospital Israelita Albert Einstein
Especialista em Psicologia Hospitalar – CFP
Coordenadora do Núcleo de Cuidados Paliativos da Oncotrata Oncologia Integrativa
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